
Há uma nuvem sombria pairando sobre a exuberante floresta amazônica, uma tempestade de dor e injustiça que não pode mais ser ignorada. Nos confins do interior e nas ruas da capital Manaus, a epidemia de estupro e feminicídio tem lançado uma sombra sinistra sobre a beleza natural desta região.
Os relatórios revelam um aumento exorbitante nos casos de feminicídio, uma escalada cruel que desafia a segurança e a dignidade das mulheres. No interior, onde as vozes muitas vezes ecoam silenciosas, a espiral de feminicídios tem transformado comunidades inteiras em testemunhas mudas da violência de gênero.
Segundo dados do Fórum de Segurança Brasileiro, o relatório de violência contra mulheres e meninas no primeiro semestre de 2023 se comparado ao primeiro semestre de 2022, o Amazonas registrou um aumento de 87,5% em casos de feminicídio. No ano de 2019, foram registrados 7 casos; em 2020, foram 6; em 2021, 6; em 2022, 8; e no ano de 2023, foram registrados 15. Homicídios dolosos contabilizaram 39 casos em 2022, já em 2023, foram 53. Um aumento de 35,9%.
Ainda segundo dados das pesquisa, os números de estupros “caíram” no Amazonas, segundo dados dos registros. Em 2019, foram contabilizados 416 casos; em 2020, foram 346; em 2021, 355; em 2022, 399; e em 2023, foram 350 casos. Em relação ao ano anterior, houve uma redução de 12,3%. Já em relação ao primeiro ano de contagem, 2019, a queda foi de 15,9%.
350 CASOS DE ESTUPRO??? Só no primeiro semestre do ano passado, imagina então no restante do ano? Essa dita diminuição no número de casos de estupro não traz tranquilidade nenhuma para as mulheres, ou seja, essa estatística é apenas a ponta do iceberg. Nas comunidades mais afastadas, onde o acesso à justiça é limitado, a violência contra as mulheres muitas vezes permanece nas sombras, sem chegar às estatísticas oficiais.
Em âmbito nacional de acordo com o fórum, o Brasil registrou 34 mil casos de estupro e estupro de vulnerável de meninas e mulheres no primeiro semestre do ano passado, crescimento de 14,9% em relação ao mesmo período no ano de 2022, ou seja, a cada 8 minutos uma menina ou mulher foi estuprada entre janeiro e junho no Brasil, maior
número da série iniciada em 2019. Mais chocante é comprovar que o relatório apontou ainda que todas as regiões apresentaram crescimento nos casos de estupro e estupro de vulnerável no 1º semestre de 2023 quando comparado com o mesmo período do ano anterior.
E COMO SERÁ ESSE ANO QUE MAL INICIOU?
O silêncio que envolve esses crimes é, em si, um grito ensurdecedor. Tantas vítimas se veem duplamente traídas, não apenas pelos agressores, mas também por uma sociedade que, em muitos casos, prefere fechar os olhos para a brutalidade que ocorre nos bastidores. O silêncio cúmplice perpetua a impunidade e permite que a violência floresça.
É imperativo que a sociedade como um todo desperte para este pesadelo. É hora de questionarmos o status quo, de rompermos com a complacência que permite que nossas irmãs, filhas e mães se tornem estatísticas assustadoras. A luta contra o estupro e o feminicídio não é apenas responsabilidade das autoridades, mas de cada um de nós.
Estou profundamente perturbado com a frequência com que, diariamente, recebo na redação do portal e-mails contendo vídeos de feminicídios, informações sobre novos casos de estupro, mensagens via WhatsApp relatando mais uma agressão. É uma rotina angustiante acompanhar notícias que, a cada dia, destacam mulheres sendo vítimas de maridos, ex-maridos, namorados, ex-namorados que não aceitam o término do relacionamento, pais que molestam as filhas, padrastos que abusam das enteadas, e assim por diante. A sensação de impotência é avassaladora, e a pergunta que ecoa é: por que ninguém está tomando medidas efetivas para enfrentar essa terrível realidade?
Na escuridão dessa crise, devemos acender a luz da conscientização e da ação. É hora de dar voz às vítimas, de desafiar o sistema que perpetua a violência e de construir uma sociedade onde todas as mulheres possam viver sem medo. O futuro da Amazônia e de sua gente depende da nossa coragem de enfrentar essa tempestade e mudar o curso de uma história manchada pela tragédia e pela omissão.