Lançada recentemente na Netflix, a série “Adolescência” se tornou um fenômeno de audiência com sua representação realista e sensível da vida adolescente atualmente. A produção, que conta a história de Jamie Miller, de 13 anos, acusado de assassinato, alcançou 96,7 milhões de visualizações em apenas três semanas – garantindo a 9ª posição entre os seriados mais assistidos e desbancando, por exemplo, o terceiro ano da gigante “Stranger Things”.
Em “Adolescência”, uma família tem a vida virada de ponta à cabeça após o filho mais novo ser preso pela morte de uma garota. A série conta com quatro episódios, de aproximadamente 1h de duração, filmados em uma única tomada. Durante o desenrolar da trama, a produção traz à tona discussões sobre bullying, redes sociais e masculinidade tóxica, dentre outras questões extremamente relevantes para os dias atuais, principalmente, entre os jovens e adolescentes.
Conforme a advogada Ana Beatriz Oliveira, o seriado demonstra, de maneira perspicaz, os dilemas da adolescência através de detalhes sutis, como nas conversas e situações que se desenrolam no colégio, mesmo fora das cenas principais.
“O impacto reside na sua autenticidade: a série não ignora as ‘pequenas violências’ que permeiam o cotidiano dos jovens, mas as apresenta como um pano de fundo constante, que só ganha destaque quando a situação se agrava”, completou.
Para ela, a verdadeira força de “Adolescência” está na complexidade individual de cada personagem, com cada um lidando com seus próprios desafios e dramas.
“Além disso, a série também explora as dificuldades dos pais em lidar com os problemas dos filhos. Em uma cena marcante, dois amigos do personagem principal conversam e um deles revela que seus pais o instruíram a não falar com ninguém sem a presença de um responsável. Em contrapartida, o pai do outro amigo se mostra omisso diante dessa situação. Essa dinâmica revela a complexidade das relações familiares e a falta de preparo de muitos pais para lidar com os desafios da adolescência”.
Com isso, segundo Ana Beatriz, o seriado faz o público refletir sobre a adolescência de uma forma importante.
“No dia a dia, com tantas coisas para fazer, acabamos não prestando tanta atenção aos adolescentes que estão à nossa volta. (…) Mesmo que eu não conviva diretamente com eles, percebo que, muitas vezes, falta paciência e os pais acabam não tendo tempo para se dedicar aos filhos, oferecendo apenas coisas materiais. Essa falta de atenção e de interesse em conhecer os filhos não é de hoje, e aconteceu também com a minha geração. É um problema geracional”, reforçou.
“Uma das lições mais importantes da série é que a adolescência é uma fase de transição complexa e desafiadora, tanto para os jovens quanto para seus pais. A série nos lembra da importância de cultivar o diálogo, a empatia e o respeito mútuo nas relações familiares, e de buscar ajuda profissional quando necessário. Além disso, nos alerta sobre os perigos da omissão parental e da liberdade irrestrita na internet, incentivando a um uso mais consciente e responsável das tecnologias”, finalizou a advogada.
Amizade, amor e pressão social
Para o servidor público Rodrigo Vasconcelos, a produção consegue transmitir bem a fase da adolescência. Esse é um período em que os jovens se sentem pressionados a se encaixar em grupos, o que pode levá-los a tomar decisões impulsivas, seja por amizades, seja por relacionamentos. A escola, que deveria ser um ambiente de aprendizado e segurança, acaba se tornando um lugar hostil, cheio de gritos e conflitos. Isso reflete bem como muitos adolescentes se sentem: perdidos e desamparados, ressaltou.
“Um bom exemplo disso é a relação entre o policial e o seu filho, que, em determinado momento, assume que foi a conversa mais longa que teve com o filho em anos! Um pai não fala com o seu filho? Que relacionamento estranho. Em outro caso, a personagem Jade também não pode contar com os pais, acha que não pode conversar com a professora e o seu único amparo morreu na série”, ilustrou o servidor público.
Entre as diversas cenas marcantes da série, fora os planos sequências, ele destaca o intenso debate entre Jamie e a psicóloga – onde a raiva do protagonista vem à tona. “Uma raiva que é capaz de cometer um crime”, reforçou Rodrigo. A dor dos pais também, pois eles estão devastados, consumidos pela culpa, mas precisam seguir em frente diante do destino inevitável do filho. “Outra cena que me surpreendeu foi a fuga do colega que entregou a faca ao Jamie”, listou.
Por fim, o servidor público chama atenção para a visível desconexão entre adultos e adolescentes.
“Parece que os adultos da série não conseguem acessar o mundo dos jovens, criando um abismo entre as gerações que só amplia os conflitos e o sentimento de solidão dos adolescentes. Isso reforça uma questão essencial: a falta de presença dos pais na vida dos filhos. A série nos faz refletir sobre como os adolescentes enfrentam esse período de transição sozinhos e como isso pode gerar consequências graves”, encerrou.






