
Duas estudantes do Colégio Militar de Manaus (CMM) vão representar o Amazonas após terem seu projeto intitulado “MeMO”, aprovado para a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) 2025.
Ada Jamile Gomes de Oliveira, de 17 anos, e Isabela Rogério Cardoso, também de 17 anos, desenvolveram um estudo que tem como objetivo uma abordagem inovadora para o tratamento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, utilizando ondas binaurais.
Em entrevista, as estudantes explicaram que a ideia do Projeto MeMO surgiu durante uma aula de ondulatória, onde as alunas discutiram a influência das ondas sonoras sobre as emoções.

Porém, a preocupação com os familiares que enfrentam o Alzheimer foi o principal motor para as estudantes manauaras iniciarem a pesquisa científica.
“Nós acabamos levantando a questão de que alguns tipos de som fazem as pessoas felizes, devido a capacidade de influenciar neurotransmissoras de serotonina, porém não segui para frente porque a questão do Alzheimer sempre me impactou muito” explicou Ada Jamile, que está no terceiro ano do Ensino Médio no CMM.
Após essa experiência, Ada reuni os amigos Pansini e a Isabela Rogério para começar o projeto. Após isso, verificaram qual seria o foco do tratamento e, devido ao impacto que o Alzheimer causava nos três.
“Porque ambos tinham parentes, familiares conhecidos que já tinham a doença de Alzheimer ou tinham alguma doença neuroterativa, seguimos para esse caminho”, explicou.
Demência acima dos 60 anos
De acordo com o Relatório Nacional sobre a Demência, 8,5% dos brasileiros acima de 60 anos têm demência, totalizando 2,71 milhões de indivíduos. Desses casos, 70% correspondem à doença de Alzheimer, enquanto a doença de Parkinson também apresenta incidência significativa.
Nesse contexto, o custo médio anual por paciente dos tratamentos para Alzheimer e Parkinson sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS) e evidenciam a necessidade de terapias mais acessíveis e eficazes.
Com base nisso, as estudantes realizaram um bioensaio com células H4, expondo-as a uma batida binaural de 12 Hz para avaliar o impacto na expressão dos genes APP, MAPT e BACE, relacionados a demências.
Isabela Rogério, egressa do CMM e estudante do primeiro período de Engenharia Elétrica da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), explicou que os resultados demonstraram redução significativa na expressão desses genes após a exposição ao estímulo sonoro, indicando modulação de processos biológicos ligados às demências.
“Nós expusemos essas células por 1 hora a nossa batida binaural de 12 Hz e o nosso resultado foi muito significativo. Após fazer a extração do RNA e a qPCR, verificamos que houve uma redução da expressão gênica dos nossos 3 genes: o APP reduziu 2%, o MAPT reduziu 48%, e o BACE 11%”, acrescentou Isabela.
Esses resultado, sengundo ela, mostram que as ondas binaurais podem, sim, regular a expressão gênica mas, claro, que para afirmar 100%, são necessários novos testes pra confirmar achados e também para embasar ainda mais a pesquisa.
Reconhecimento e apoio
A apresentação do projeto para professores do curso de Medicina da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) foi um momento marcante para as jovens pesquisadoras.
“Saber que nossa dedicação, desde os experimentos até as longas noites de pesquisa, gera um impacto real nos enche de orgulho. Não apenas pelo crescimento acadêmico e profissional, mas também por representar o Amazonas e destacar sua relevância na iniciação científica”, explicou Ada

O impacto social e científico da pesquisa também motiva as estudantes a demonstrar a realidade de pacientes que convivem com estas doenças degenerativas no Amazonas e como a ciência pode contribuir para a melhor da qualidade de vida destas pessoas.
“Queremos mostrar que, apesar do isolamento geográfico, nosso estado pode ser uma potência em feiras científicas no Brasil e no mundo. A iniciação científica nasce aqui, e nossa missão é provar que jovens da nossa região têm potencial para transformar realidades. O apoio dos especialistas reforça que a ciência não tem idade nem fronteiras, e esperamos inspirar outros alunos a seguir esse caminho”, pontuou Isabela.
Próximos passos
Após a aprovação na Febrace 2025, as alunas estão animadas com o futuro do projeto.
“Nós estamos muito felizes e gratas pela aprovação na, já que isso é um marco muito importante pro nosso projeto. Essa oportunidade permite que nós apresentemos os achados para a comunidade científica e também que a gente possa explorar as oportunidades de apurar o projeto”, destacam as estudantes manauaras.
Os próximos passos da pesquisa, segundo as jovens cientistas, incluem testes in vivo pra poder analisar a resposta fisiológica dos organismos quando houver exposição a batida binaural. Além de realizar testes para checar a atividade elétrica do cérebro durante essa estimulação.
“Nós acreditamos que a nossa meta para o futuro da saúde é tornar mais acessível não só essa tecnologia mas, como muitas outras tecnologias, para apopulação e também contribuir para avanços tanto na neurociência quanto em diversas áreas da saúde, para que assim seja possível melhorar a qualidade de vida de diversos pacientes”, ressaltaram as jovens pesquisadoras.